O jejum significa abster-se de comer, beber e ter relações sexuais do amanhecer ao anoitecer com a intenção de cumprir deveres religiosos conforme prescrito pela Sharia.
De acordo com as informações das fontes, o jejum tornou-se obrigatório no mês de Shaban (fevereiro de 624) no segundo ano da Hégira.
Assim como a oração, a esmola, a peregrinação, o sacrifício e outras formas de adoração, o jejum é um ato de adoração obrigatório não apenas para o povo de Muhammad, mas para todos os profetas e suas comunidades. De fato, no versículo que afirma que o jejum é obrigatório, Deus Todo-Poderoso diz:
Ó os que creem e confiam, é-vos prescrito o jejum, como foi prescrito aos que foram antes de vós, para que se protejais.
Alcorão 2:183
O artículo alif-lam (harf ta’rîf) no início da palavra “as-siyâm (الصِّيَامُ)” no texto do versículo expressa definitividade, então o significado se torna “o jejum”, o que mostra que o jejum tornado obrigatório para nós é o mesmo que o jejum tornado obrigatório para as nações antes de nós. De verdade, a expressão no versículo, “como foi prescrito aos que foram antes de vós (كَمَا كُتِبَ عَلَى الَّذِينَ مِن قَبْلِكُمْ)” nos informa sobre esse assunto. Assim como na oração, quando os versículos sobre o jejum foram revelados, não há registro de que alguém, seja crente ou politeísta, tenha dito: “O que significa jejum? De onde surgiu esse ato de adoração?” Isso é bastante significativo, pois demonstra que aqueles que abordaram o termo “jejum” estavam bem cientes de seu significado e das disposições que ele implicava. Os detalhes desse jejum são explicados nos seguintes versículos:
(Jejuai nos) Dias consecutivamente adicionados. Quem de vós esteja enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. Aqueles que poderão jejuar, também, devem pagar resgate suficiente (fitrah) para alimentar um desesperado. Quem faz uma bondade voluntariamente, é melhor para ele. Jejuar (estando enfermo ou em viagem, também) é melhor para vós. Se soubésseis!
Alcorão 2:184
(Aqueles dias são) O mês de Ramadan em que o Alcorão, o Discernimento, que é a orientação para a humanidade e que inclui os versos explicativos do guia, foi descido. Quem de vós presenciar esse mês, que jejue; e quem estiver enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. Deus vos deseja a facilidade, e não vos deseja a dificuldade. Isso é para que vós completais o número, (o dia em que termina o jejum) para que glorifiqueis a Deus (na oração da festa) por Ele vos ter guiado e para que cumprais vossos deveres para com Ele.
Alcorão 2-185
Quando Meus servos te perguntarem de Mim, estou próximo. Atendo ao chamado do suplicante. Que eles Me atendam e confiem em Mim, para que possam amadurecer.
Alcorão 2-186
Tornou-se lícito para vós nas noites de jejum, aproximardes-vos das vossas mulheres. Elas são vestimentas para vós, e vós sois vestimentas para elas. Deus soube que vos traístes a vós mesmos e Ele voltou-Se para vós e indultou-vos. Agora, podeis vos juntar com elas. Buscai o que Deus vos prescreverá. Comei e bebei até que na direção aurora, a linha branca seja claramente distinguida, para vós, da linha preta. Em seguida, completai o jejum até o anoitecer. Não vos junteis a suas mulheres enquanto estiverdes em retiro nas mesquitas. Esses são os limites de Deus, não vos aproximeis deles. Deus elucida os Seus versículos para os homens, a fim de que se protegem.
Alcorão 2-187
Observação de crescente ou cálculo?
Os meses lunares, incluindo o Ramadã, duram 29 ou 30 dias. O início e o fim desses meses são determinados pela observação do crescente. Após o pôr do sol do 29º dia atual do mês lunar, observa-se o crescente do mês seguinte. Esta lua crescente requer observação cuidadosa, pois se põe algum tempo após o pôr do sol. A observação pode ser muito difícil, até mesmo impossível, se houver poeira, fumaça, nuvens, etc. no horizonte ocidental. Se a lua crescente não estiver visível, o mês corrente é considerado como tendo 30 dias. Não há necessidade de observar a lua crescente na noite do 30º dia, pois nenhum mês lunar dura mais de 30 dias.
Foi narrado que o Profeta disse o seguinte sobre o início e o fim do mês do Ramadã:
Comeceis o jejum ao ver o crescente (do Ramadã) e termineis o jejum ao ver o crescente (do Shawwal). Se o crescente não for visível devido às nuvens, completeis o mês de Shaban até 30.
Buhârî, Savm, 11; Tirmizî, Savm, 3, 5.
Outro hadith é o seguinte:
“Somos uma nação analfabeta, não sabemos escrever nem calcular. A lua é assim, assim, assim (apontando com os dedos).” (Abu Dawud disse, o narrador) Salomão fechou um dedo no terceiro sinal, significando que (a lua) está em vinte e nove ou trinta.
Buhârî, Savm, 11, 13; Muslim, Sıyâm, 4, 10, 12, 13, 15.
Como não havia cientistas especialistas capazes de calcular os movimentos da lua na época do o Profeta, ele afirmou que a única solução era observar o crescente. Caso contrário, observar o crescente não é um pré-requisito para iniciar um jejum ou celebrar um feriado.
Deus chamou nossa atenção para o cálculo, não para a observação ao ordenar seguinte:
É Ele Quem fez o Sol que ilumina e a Lua que brilha, e determinou-lhe fases para puderdes saber o número de anos e o cálculo. Deus não criou isso senão por uma razão válida; explica detalhadamente os versículos para um povo que sabe.
Alcorão 10-5
Por que o jejua?
Ó os que creem e confiam, é-vos prescrito o jejum, como foi prescrito aos que foram antes de vós, para que se protejais.
Al Baqarah 2-183
A parte sublinhada na tradução corresponde à expressão “laallakum tattakûn” (لَعَلَّكُمْ تَتَّقُونَ) no verso. A palavra “tattakûn” deriva da palavra taqwâ (تقوى). Neste caso, o significado do verso é “para que você seja piedoso”. Derivado da palavra wikâya, que significa “proteger algo contra coisas que causam sofrimento ou dano”, taqwâ significa “proteger-se contra algo que se teme” ou, simplesmente, “ser protegido”.1
Portanto, o jejum foi tornado obrigatório não para matar as pessoas de fome, mas para transformá-las em servos piedosos de Deus, para incutir um senso de responsabilidade para com Ele e a capacidade de autocontrole. É precisamente por isso que o jejum deve ter um impacto positivo no comportamento das pessoas. O Profeta enfatizou esse ponto, dizendo:
Deus não precisa que uma pessoa que não para de mentir e de fazer coisas mentindo, pare de comer e beber, ou passe fome!
Bukhari, Sawm, 8, Adab, 51; Abu Dawud, Siyam, 25; Tirmidhi, Sawm, 16.
Há pessoas que jejuam, mas seu único ganho é fome e sede.
Ibn Majah, Siyam, 21.
O jejum é um escudo. Quem jejua não deve usar linguagem chula. E se alguém tentar discutir com ele, deve dizer: “Estou em jejum, estou em jejum”, e não discutir com ele.
Bukhari, Sawm, 2; Muslim, Siyam, 163.
Para quem o jejum é obrigatório?
Para que o jejum seja obrigatório para uma pessoa, as três condições a seguir devem ser atendidas:
Ser muçulmano.
Ser inteligente.
Ter atingido a puberdade.
A puberdade é a época em que os meninos começam a ter sonhos molhados (ejaculam no sonho) e as meninas começam a menstruar. A puberdade começa aos 9 anos para as meninas e aos 12 para os meninos. Segundo Abu Hanifa, os meninos atingem a puberdade aos 18 anos e as meninas aos 17. Segundo a maioria dos juristas islâmicos, as crianças, independentemente do sexo, atingem a puberdade aos 15 anos. Portanto, as pessoas nessa idade devem cumprir regularmente todas as obrigações religiosas, especialmente o jejum.
O jejum também é obrigatório para doentes e viajantes. No entanto, eles podem pular o Ramadã e compensar os dias perdidos posteriormente. Não jejuar é uma opção permitida para eles. No entanto, sepuderem jejuar, é melhor para eles. Se o jejum puder piorar a doença, eles não devem jejuar.
Os doentes e viajantes podem não jejuar ou podem interromper o jejum que já iniciaram. Nesse caso, compensar os jejuns perdidos ou interrompidos é suficiente; não há expiação.
O jejum é obrigatório para todas as mulheres, exceto aquelas doentes ou em viagem, bem como para mulheres menstruadas e puérperas. Além disso, uma mulher que menstrua durante o dia durante o jejum deve continuar seu jejum. No entanto, se sua menstruação ou período pós-parto causar sofrimento significativo à mulher, ela pode interromper o jejum, pois é considerada doente; caso contrário, ela deve continuar seu jejum. Isso porque o versículo não afirma: “Doentes, viajantes e mulheres menstruadas/puérperas não podem jejuar!”. Nem é permitido a ninguém conceder permissão ou licença que Deus não tenha concedido. 2
A importância de acordar para Suhur
O jejum começa ao amanhecer. A luz da manhã, que começa a se estender ao longo do horizonte, onde o céu e a terra se encontram a leste, indica a chegada do amanhecer. Este é o período do imsak. Deus Todo-Poderoso declara:
…Comei e bebei até que na direção aurora, ³ a linha branca seja claramente distinguida, para vós, da linha preta…
Alcorão 2-187
A refeição que antecede o imsak é chamada de suhur. Embora não seja obrigatória, todo muçulmano deve, se possível, acordar para a refeição da madrugada e desfrutar de suas bênçãos. A respeito disso, o Profeta disse:
Tomeis o suhur, porque há bênçãos nele.
Bukhari, Savm, 20; Muslim, Siyam, 45 (1095).
A diferença entre o nosso jejum e o jejum do Povo do Livro (judeus e cristãos) é a refeição suhur.
Muslim, Siyam, 46 (1096); Abu Dawud, Siyam, 15; Tirmidhi, Sawm, 17.
Fica claro tanto neste último hadice quanto na frase “É-vos permitido…” no versículo Alcorão 2:187 que a refeição antes do amanhecer (suhur) é uma conveniência exclusiva desse Ummah, indisponível para nações anteriores. Devemos aproveitar essa conveniência que Deus concedeu à Ummah de Muhammad e não perder as bênçãos da refeição suhur.
O que quebra o jejum e o que não?
Jejum é abster-se de comer, beber e ter relações sexuais do amanhecer ao anoitecer, com a intenção de adorar. Consequentemente, comer, beber ou ter relações sexuais sem qualquer explicação específica quebra o jejum. Como o final do versículo também afirma: “Estes são os limites de Deus, portanto, não se aproximem deles”, é necessário abster-se de qualquer coisa que os aproxime — em outras palavras, abster-se de comer, beber e ter relações sexuais — durante o jejum.
Medicamentos usados por pacientes com falta de ar, colírios, gotas para ouvidos e nariz, e comprimidos sublinguais que são absorvidos pelo tecido da boca e se misturam com o sangue, mas não chegam ao estômago, não quebram o jejum, pois não são considerados comida ou bebida.
Entrar na situação que exija uma ablução ghusl enquanto dormir, doar sangue, vomitar até mesmo uma quantidade considerável de líquido ou tomar um banho não quebra o jejum.
Comer ou beber enquanto se esquece de que está jejuando não quebra o jejum, porque o Profeta disse:
Quem se esquece de comer ou beber durante o jejum deve completar seu jejum, pois Deus o fez comer e beber.
Bukhari, Sawm, 26, Ayman, 15; Muslim, Siyam, 171 (1155).
Esta declaração do nosso Profeta é um exemplo do versículo de Deus Todo-Poderoso:
Deus não impõe a ninguém a responsabilidade além da sua capacidade.
Alcorão 2:286
Punição por quebrar o jejum intencionalmente
É proibido comer, beber ou ter relações sexuais após o amanhecer durante o Ramadã. Essas ações constituem rebelião contra Deus e carregam um grave fardo. O Profeta disse:
Se uma pessoa quebra o jejum de um dia no Ramadã sem nenhuma desculpa ou doença, mesmo que ela jejue pelo resto da vida, isso não será considerado um substituto para esse jejum!
Bukhari, Sawm, 29; Abu Dawud, Siyam, 38; Tirmidhi, Sawm, 27.
O que tal pessoa deve fazer é arrepender-se de seus pecados e pedir perdão a Deus. Recomenda-se que ela faça alguma caridade para que seu arrependimento seja aceito.
Esta pessoa não é obrigada a jejuar por 61 dias (jejuns de reposição ou expiatórios)! Os versículos sobre jejum permitem apenas que aqueles que estão doentes ou viajando jejuem para substituir em jejum de Ramadã, o que é uma bênção e uma honra para eles. Aqueles que não jejuam ou quebram seus jejuns, mesmo que não estejam doentes ou viajando, não recebem tal bênção ou honra.
A decisão nos livros de fiqh de que aqueles que deliberadamente quebram o jejum devem jejuar por dois meses consecutivos está relacionada à expiação do zihar, conforme indicado por versículos e hadices autênticos, e é uma decisão errônea que surgiu como resultado da avaliação incorreta de dois eventos diferentes.